A segunda história é a da Rosa Nilva. Conheci-a em 1984
quando cheguei em Ituiutaba para abrir uma área de vendas de cosméticos de uma
marca internacional para a qual eu fora convidada para liderança.
Logo comecei a recrutar mulheres, treiná-las para as vendas
e a Rosa foi uma das primeiras.
Muito interessada em aprender tudo que lhe proporcionasse
condições de ganhar dinheiro logo se destacou como uma das mais dedicadas
vendedoras e esse sucesso lhe deu segurança para juntamente com o marido
comprar um terreno para edificar a casa pois moravam de aluguel.
O marido tinha a profissão de motorista e o que ganhava não
era suficiente para pagar a prestação do
financiamento então a Rosa se comprometeu com 30% do valor das prestações cujo valor não era alto pelo tamanho e
simplicidade da casa que não tinha mais do que quarenta metro quadrados.O casal
só tinha uma filha de oito anos à época
e assim a vida seguiu seu curso.
Mas nem sempre tudo acontece conforme planejamos e como
relatei no livreto “Estava escrito nas estrelas” a empresa para a qual
trabalhávamos encerrou as atividades no Brasil e eu tive que buscar outra
para dar suporte financeiro a
todas as vendedoras que havia contratado e a Rosa era uma das mais necessitadas
de trabalho pelo compromisso assumido no financiamento.
Logo fui admitida em outra empresa como líder e distribuidora
dos cosméticos e a Rosa me acompanhou. Nove anos mais tarde abri uma loja para
revenda também no varejo e ficou
registrada na foto da inauguração a
presença da Rosa Nilva.
Os percalços da vida às vezes nos tiram do rumo e a Rosa
começou a ter problemas renais que com o passar dos anos a levou a um
tratamento difícil pelo deslocamento que tinha que fazer para se submeter à
hemodiálise em Goiânia.
A filha já adulta teve que arranjar um emprego fora para
ajudar nas despesas do tratamento da mãe e o marido pediu aposentadoria
antecipada para ficar em casa cuidando
da esposa .
As dificuldades financeiras pelos gastos com a doença
acabaram por dificultar o pagamento das prestações do financiamento e após
alguns meses de atraso a filha quitou todas as prestações atrasadas com o dinheiro do salário que
economizara .Aí já contava vinte anos de pagamentos à Caixa (o contrato era de
1988) mas a CAIXA cedeu os créditos para a EMGEA que atualizou a dívida de forma abusiva,
impossível de ser paga pois a prestação aumentada correspondia ao valor do salário
mínimo que o marido recebia de aposentadoria.
A doença da Rosa progrediu e foi agravada pela diabete que
provocou a perda parcial da visão e o marido sofria com a precária condição financeira e os gastos com a doença
da esposa.
Foi aí que aconteceu o pior, a CAIXA e a EMGEA decidiram exec utar o imóvel (após vinte anos
de prestações pagas)e quando o casal foi notificado da execução o marido no desespero viajou para
Uberlândia a fim de buscar uma solução
na justiça federal . Ao chegar na
rodoviária tomou um taxi e quando ia desembarcar na porta do prédio da justiça
federal teve um AVC e veio a óbito.(
Esse fato ocorreu em novembro de 2011)A Rosa ficou viúva, doente e praticamente
cega.
A Rosa e o marido haviam assinado em 1988 juntamente com o
compromisso da dívida um contrato de seguro por invalidez ou morte assim
estaria findado o compromisso contratual de financiamento até porque pagaram
prestações por vinte e dois anos mas a
mãe praticamente cega e a filha sem conhecimento dos direitos contratuais não
tiveram a casa quitada.
No dia doze de março do ano de 2015 numa situação de vida
dramática pela diabete, problemas
renais, trombose e praticamente cega a Rosa faleceu e dezoito dias após, um
especulador do ramo imobiliário foi ao cartório com um falso documento de leilão datado de 2012
validado pela CAIXA e EMGEA, transferiu
a casa para o seu nome e quatro meses mais tarde, às seis e trinta horas do dia , chegou com três policiais e uma
ordem judicial de despejo, e antes que a
filha da Rosa fizesse o café para os
filhos irem para a escola iniciaram a
ação de despejo .Retiraram todos os pertences
e móveis, levaram para um depósito e a mãe e os filhos ficaram até mesmo
sem as roupas para trocarem .Uma vizinha
com pena da família os acolheu porque não tinham para onde ir.
Há vocabulário, expressão
gramatical ou qualquer recurso verbal que explique tamanha violação ao
direito de família e propriedade? Até hoje a justiça nada resolveu no sentido
de exigir providências da CAIXA e EMGEA para que cumpram o contrato e devolvam a
casa para a única filha herdeira do
casal.
Fica no ar a pergunta: O que se entende por ordem pública,
direito de família, direito de propriedade, segurança patrimonial,
responsabilidade cartorial, premissas da CAIXA como empresa governamental
responsabilizada pela ordem social através de moradia?
CAIXA E EMGEA são duas empresas governamentais que estão
violando o sagrado direito familiar , promovendo a desordem social através de
despejos sem fundamento legal,
fomentando a especulação imobiliária através de atos criminosos pela usurpação
de casas ilegalmente vendidas .
Um final de vida trágico para o casal e o infortúnio para a
filha que não tem onde morar.
A justiça nada decide e enquanto isso o especulador já vendeu
a casa que está sendo reformada para ser novamente vendida. A CAIXA E
EMGEA lucram roubando ( sim, a expressão correta é roubo)os imóveis pelos quais
já recebeu os valores devidos pelo
empréstimo, pois não levam em conta os longos anos de prestações pagas.
Mas esse caso não é
apenas o segundo relatado nesse blog, há dezenas de famílias despejadas morando
de favor, ou em precárias condições nos
arredores da cidade.